segunda-feira, 24 de setembro de 2012

"Nada permanece inalterado até o fim"

Todos os dias ele a esperava sentado na calçada da esquina, esperava ansioso pela hora em que ela passaria, lhe daria um sorriso, talvez até lhe dissesse olá, tudo em vão, era tempo perdido. Os tempos eram outros e tudo estava mudado, os sonhos; os assuntos; as lutas já eram outras. 
Os objetivos haviam mudado, mas ele não compreendia que as coisas não permaneciam inalteradas até o fim, tudo está a se modificar o tempo todo e a todo instante. Não se pode negar que ele tentava (é bem verdade), mas era tanta saudade naquele peito, que ele acabava dizendo sim ao desejo de querer, não o amor, mas o desejo incontrolável pelo incerto, talvez não fossem as lembranças que o perturbavam tanto, mas as impossibilidades de um futuro que não aconteceu, e estava ali no presente, prestes a ser passado, esperando um vir a ser, nervoso e com as mãos suadas, esperando ela passar, mas ela não passou.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Contentamento



Ninguém sabe o nome dela, mas todos a olham procurando uma brecha para entender de onde vem tanta luz, ela ignora os olhares e deita sobre o chão macio, esquece o tempo enquanto seus pensamentos viajam pelo passado e logo se projetam em direção ao futuro, como se fosse um filme que roda em uma sala especial só para ela. Sua imaginação é ilimitada, assim como as lembranças de um passado que  a feriu deixando marcas, mas apesar das lembranças ruins, sente um transbordamento de paz, uma felicidade que há muito não sentia, "ela sorri, deve estar feliz", diz alguém baixinho, "Há um ar de contentamento" diz o outro, eles estão certos nos comentários, ela está de fato feliz.
Ela descobriu uma paz interior que ela desconhecia e nisso há tanta satisfação, que já não lhe cabem, ela quer explodir para o mundo, quer colocar para fora toda essa energia boa que flui diariamente; quer reproduzir e espalhar essa felicidade que é tão boa. E que alegria nova é essa? Perguntam.
Aconteceu que de repente não houve mais espaço para a dor e desse esvaziamento de uma tristeza que existia, a alegria venceu e ganhou forma, se esticando por dentro dela; espaço por espaço; gota a gota e célula por célula; ela está totalmente tomada por um novo momento, ela está em paz e deu  a essa sensação o nome de felicidade.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Novo Endereço

Foi com a mala cheia de jeans e camisetas que ela saiu, bateu a porta e nem olhou para trás, nos pés um tênis surrado e uma longa estrada pela frente, estava cheia de sonhos e estratégias em mente, não tinha nada a perder, aquela era a hora que ela escolheu para viver grandes aventuras, para "experienciar" coisas que só a vida despida da proteção dos pais e da família poderiam lhe revelar.
Saiu sem medo, olhar confiante e a passos lentos ela caminhava enquanto sentia os olhares que a seguiam pela avenida comprida, e por minutos pareceram-lhe não ter fim, coisa de cidade pequena, todos sabiam que ela estava partindo, os buchichos começavam a ecoar enquanto ela direcionava sua vida rumo ao novo endereço, um lugar novo.
E foi assim que ela escolheu viver, ela sentia na pele o sol que ardia, como um pedido do seu corpo, um querer intenso por viver a vida como ela é; sem meio termos; sem piedades. Queria encarar a vida sozinha, não estava mais fugindo, ela finalmente descobriu que não podia se fechar para uma ideia, para um lugar ou para uma pessoa e assim foi mais feliz.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A Paz Reinou em Fim

Se tinha sobrado algum sentimento daquele relacionamento, sem dúvida era a paz interior que passou a morar nela, foi como se um tornado tivesse passado em sua vida sem ter deixado grandes estragos. Ela fechou os olhos e respirou fundo, apenas esperou o tempo se acalmar; sentiu o impacto e a força de todo o vento que passou por ali,  consciente a todo momento apenas disse a si mesma "mais um capítulo encerrado, página virada". De fato não sobrou nada, mas ela ainda estava ali, mesmo aos pedaços, assistindo a tudo que  tinha construído cair aos montes e com a mesma força que uma pedra cai de um penhasco. O fim para ela foi como um tornado que passa levando tudo que está pelo caminho, ele passou levando seus sonhos e planos, tudo pelo ar. Mas estranhamente ela não chorou, não lamentou, apenas sorriu, sentiu uma paz desconhecida, sabendo que era forte e que sobreviveu até ali.

sábado, 25 de agosto de 2012

Gabriele

Ela trazia no peito o peso de uns anos vividos com tanta intensidade, vitórias e perdas, amores e desilusões, era tanta história e tantas coisas contidas, e os desejos pulsavam com força, como se quisessem  fugir, escapar para um lugar qualquer e de fato queriam, talvez por isso ela fosse assim tão agitada, havia um excesso de sentimentos ali dentro daquele coração.
E aquela moça tão linda que carregava um ar de menina travessa, tinha uma aura especial, um Q de atrativo que ninguém jamais soube explicar, enviada de Deus, já dizia seu nome, Gabriele. Menina que a todos encanta, fascinava a todos com aquele jeito moleca de rir e fazer graça com tudo, e apesar de uma bagagem enorme que carregava consigo jamais se deixou amargar pelas perdas da vida e embora tenham sido muitas as suas desventuras, ela era cheia de afetos e saudade dos que já tinham partido, ela caminhava compassadamente em seus sapatos all star, sempre com um ar de mistério que aqueles olhos graúdos carregavam, tinha um olhar penetrante que era capaz de enxergar almas e por isso não se deixava iludir  facilmente, a vida havia lhe ensinado a ler olhares, sabia decifrar o verdadeiro do enganoso e isso certamente era a melhor qualidade de Gabriele.
Muitos diziam que ela era mais que mulher, era um misto de mulher com um ser sobrenatural, que não se abatia, não sofria e nem se alegrava, na cidade ecoavam boatos de que ela estava em estado de serenidade constantemente, mas quem teve a chance de conviver com ela sabe que Gabriele tinha em si mais humanidade do que qualquer pessoa, e se tinha algo de deusa, com certeza era o dom de fazer com que a amassem, aquela mulher soube ser amada como jamais alguém soube.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O mar a levou


Sara olhava o mar como se ali fosse chegada sua hora, momento sublime, era despedida de um tempo, fechamento de um ciclo de vida, ela estava desesperada para encontrar o vir a ser, estava livre das amarras de um passado pesado, e assim atirou-se ao mar. Que agonia, alguns minutos se debatendo em alto mar, dores e frio, mas nada lhe faria desistir, estava sendo tão doloroso, ela sentia-se como uma borboleta antes da transformação, sentia-se lagarta, com um corpo tão frágil, esticando-se para sair de um casulo apertado, saindo de uma fase dolorosa e confusa para entrar na fase que lhe faria alçar altos vôos, mas não era fácil sair do casulo, era preciso esperar o tempo certo, o tempo em que as asas estariam prontas. O tempo de dores e sofrimentos eram para fortalecer as asas coloridas que lhe fariam voar por novas experiências, para "novos mundos".
Estica o braço, dá fortes braçadas, finalmente  Sara se vê nadando com graça e força, ela estava deixando-se levar pelo mar e por suas fortes águas. Onde foram parar as dores e o frio? Já nem lembrava, sorria contente por estar ali, sentia-se ousada por tentar ser feliz. Ela estava satisfeita por ter abrido mão de uma comodidade que lhe faria infeliz, ela estava finalmente tendo contato com o novo, com o desconhecido, Sara estava sendo apresentada ao prazer de viver a vida exatamente como há muito deveria ser.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

O Reencontro


Não havia dúvidas de que eles tinham vivido para aquele momento, e já não existiam dúvidas ou medo (e se existia, a coragem se sobrepunha a ele), o fato é que eles estavam ali para aquele reencontro, estavam se esperando, braços abertos e um sorriso no rosto, que dia maravilhoso, não eram duas pessoas se vendo novamente, eram duas almas se reconhecendo uma na outra. Muitas foram as vezes que pensaram em desistir, tentativas frustradas pois sempre retornavam ao ponto de partida, escala zero e do zero começavam, ali naquela esquina um começo se formava, chega de vírgulas, é ponto final, capítulo encerrado. Eis que uma nova história começava a ser escrita ali mesmo, passo por passo e olhos nos olhos, a certeza latente dentro daqueles corações, a ousadia de tentar mais uma vez, ela olhava o sorriso dele, aquele mesmo que ela nunca havia esquecido, embora tenha se passado algum tempo, ali estava o mesmo olhar cúmplice,  o mesmo carinho e sim, ainda era o mesmo sentimento.
Finalmente era a hora de fazer acontecer, concluir a história que havia sido interrompida, era a hora de arrumar a casa, desfazer as malas, desatar os nós, os abraços pareciam não ter fim, seria um sonho? Não mais, realmente estava acontecendo, estava escrito, tinha que ser, destino? Teimosia? Ao invés de uma resposta ela escolheu a afirmação de Caio Fernando Abreu: "Se você me amar e eu te amar, não precisamos da aprovação de ninguém para ficar juntos, como também não precisamos assinar nenhum papel ou aceitar qualquer espécie de jogo. Não acredito que maus fluídos, por mais fortes que sejam, consigam destruir um amor bonito, limpo"