quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Contentamento



Ninguém sabe o nome dela, mas todos a olham procurando uma brecha para entender de onde vem tanta luz, ela ignora os olhares e deita sobre o chão macio, esquece o tempo enquanto seus pensamentos viajam pelo passado e logo se projetam em direção ao futuro, como se fosse um filme que roda em uma sala especial só para ela. Sua imaginação é ilimitada, assim como as lembranças de um passado que  a feriu deixando marcas, mas apesar das lembranças ruins, sente um transbordamento de paz, uma felicidade que há muito não sentia, "ela sorri, deve estar feliz", diz alguém baixinho, "Há um ar de contentamento" diz o outro, eles estão certos nos comentários, ela está de fato feliz.
Ela descobriu uma paz interior que ela desconhecia e nisso há tanta satisfação, que já não lhe cabem, ela quer explodir para o mundo, quer colocar para fora toda essa energia boa que flui diariamente; quer reproduzir e espalhar essa felicidade que é tão boa. E que alegria nova é essa? Perguntam.
Aconteceu que de repente não houve mais espaço para a dor e desse esvaziamento de uma tristeza que existia, a alegria venceu e ganhou forma, se esticando por dentro dela; espaço por espaço; gota a gota e célula por célula; ela está totalmente tomada por um novo momento, ela está em paz e deu  a essa sensação o nome de felicidade.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Novo Endereço

Foi com a mala cheia de jeans e camisetas que ela saiu, bateu a porta e nem olhou para trás, nos pés um tênis surrado e uma longa estrada pela frente, estava cheia de sonhos e estratégias em mente, não tinha nada a perder, aquela era a hora que ela escolheu para viver grandes aventuras, para "experienciar" coisas que só a vida despida da proteção dos pais e da família poderiam lhe revelar.
Saiu sem medo, olhar confiante e a passos lentos ela caminhava enquanto sentia os olhares que a seguiam pela avenida comprida, e por minutos pareceram-lhe não ter fim, coisa de cidade pequena, todos sabiam que ela estava partindo, os buchichos começavam a ecoar enquanto ela direcionava sua vida rumo ao novo endereço, um lugar novo.
E foi assim que ela escolheu viver, ela sentia na pele o sol que ardia, como um pedido do seu corpo, um querer intenso por viver a vida como ela é; sem meio termos; sem piedades. Queria encarar a vida sozinha, não estava mais fugindo, ela finalmente descobriu que não podia se fechar para uma ideia, para um lugar ou para uma pessoa e assim foi mais feliz.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A Paz Reinou em Fim

Se tinha sobrado algum sentimento daquele relacionamento, sem dúvida era a paz interior que passou a morar nela, foi como se um tornado tivesse passado em sua vida sem ter deixado grandes estragos. Ela fechou os olhos e respirou fundo, apenas esperou o tempo se acalmar; sentiu o impacto e a força de todo o vento que passou por ali,  consciente a todo momento apenas disse a si mesma "mais um capítulo encerrado, página virada". De fato não sobrou nada, mas ela ainda estava ali, mesmo aos pedaços, assistindo a tudo que  tinha construído cair aos montes e com a mesma força que uma pedra cai de um penhasco. O fim para ela foi como um tornado que passa levando tudo que está pelo caminho, ele passou levando seus sonhos e planos, tudo pelo ar. Mas estranhamente ela não chorou, não lamentou, apenas sorriu, sentiu uma paz desconhecida, sabendo que era forte e que sobreviveu até ali.

sábado, 25 de agosto de 2012

Gabriele

Ela trazia no peito o peso de uns anos vividos com tanta intensidade, vitórias e perdas, amores e desilusões, era tanta história e tantas coisas contidas, e os desejos pulsavam com força, como se quisessem  fugir, escapar para um lugar qualquer e de fato queriam, talvez por isso ela fosse assim tão agitada, havia um excesso de sentimentos ali dentro daquele coração.
E aquela moça tão linda que carregava um ar de menina travessa, tinha uma aura especial, um Q de atrativo que ninguém jamais soube explicar, enviada de Deus, já dizia seu nome, Gabriele. Menina que a todos encanta, fascinava a todos com aquele jeito moleca de rir e fazer graça com tudo, e apesar de uma bagagem enorme que carregava consigo jamais se deixou amargar pelas perdas da vida e embora tenham sido muitas as suas desventuras, ela era cheia de afetos e saudade dos que já tinham partido, ela caminhava compassadamente em seus sapatos all star, sempre com um ar de mistério que aqueles olhos graúdos carregavam, tinha um olhar penetrante que era capaz de enxergar almas e por isso não se deixava iludir  facilmente, a vida havia lhe ensinado a ler olhares, sabia decifrar o verdadeiro do enganoso e isso certamente era a melhor qualidade de Gabriele.
Muitos diziam que ela era mais que mulher, era um misto de mulher com um ser sobrenatural, que não se abatia, não sofria e nem se alegrava, na cidade ecoavam boatos de que ela estava em estado de serenidade constantemente, mas quem teve a chance de conviver com ela sabe que Gabriele tinha em si mais humanidade do que qualquer pessoa, e se tinha algo de deusa, com certeza era o dom de fazer com que a amassem, aquela mulher soube ser amada como jamais alguém soube.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O mar a levou


Sara olhava o mar como se ali fosse chegada sua hora, momento sublime, era despedida de um tempo, fechamento de um ciclo de vida, ela estava desesperada para encontrar o vir a ser, estava livre das amarras de um passado pesado, e assim atirou-se ao mar. Que agonia, alguns minutos se debatendo em alto mar, dores e frio, mas nada lhe faria desistir, estava sendo tão doloroso, ela sentia-se como uma borboleta antes da transformação, sentia-se lagarta, com um corpo tão frágil, esticando-se para sair de um casulo apertado, saindo de uma fase dolorosa e confusa para entrar na fase que lhe faria alçar altos vôos, mas não era fácil sair do casulo, era preciso esperar o tempo certo, o tempo em que as asas estariam prontas. O tempo de dores e sofrimentos eram para fortalecer as asas coloridas que lhe fariam voar por novas experiências, para "novos mundos".
Estica o braço, dá fortes braçadas, finalmente  Sara se vê nadando com graça e força, ela estava deixando-se levar pelo mar e por suas fortes águas. Onde foram parar as dores e o frio? Já nem lembrava, sorria contente por estar ali, sentia-se ousada por tentar ser feliz. Ela estava satisfeita por ter abrido mão de uma comodidade que lhe faria infeliz, ela estava finalmente tendo contato com o novo, com o desconhecido, Sara estava sendo apresentada ao prazer de viver a vida exatamente como há muito deveria ser.