Ela abriu o livro novo e leu a primeira linha, parou e pensou: "A história é a mesma", repetiu a frase umas duas vezes para si, como que tentasse chegar a alguma conclusão antes de ler todo o livro, mas era teimosa demais; insistente demais; curiosa demais; tudo o que fazia era assim, ela gostava da intensidade das coisas e não conseguia parar até que soubesse do que se tratava, nunca gostou de histórias mal resolvidas, mal contadas ou contadas pela metade, ela era daquele tipo que se começavam a lhe contar algo não se podia desistir, pois ela insistiria para saber o fim da história, isso era coisa dela, e desse mesmo modo como gostava das histórias intensas, assim mesmo levava a vida, vivia por inteiro, talvez por isso fizesse tanta questão de levar a vida com muita calma, sem pressa (medo de sofrer? talvez, ninguém nunca teve certeza quanto a isso).
Mas dos livros não tinha medo e aquele livro era diferente, apesar de tanta semelhança com um livro antigo e querido que havia lido em um passado recente, e do qual ela não havia se conformado com o desfecho da história que se desenrolou sem que ela tivesse o controle. Odiava ser leitora por isso, ela não podia mudar o fim das histórias, "porque a história acaba assim e não desse outro jeito?", era a sua pergunta sempre que acabava de ler aquele bendito livro, e ficava a propor outros finais para a história, finais estes que ela julgava serem bem melhores que o final original.
Ela nunca aceitou que quem manda é o autor, nunca ela, nunca soube que existem forças maiores que a dela, mas não perdia a esperança e assim decidiu virar a página e começou a ler o novo livro, torcendo para que o final não fosse como o outro e sim o final desejado por ela.