Que ironia, mais alguém acaba de chegar de onde não queria ter voltado, são elas, as idas e vindas, o poeta havia dito "A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida", assim ela segue lenta e sem rumos, e voltando ao mesmo ponto de partida, como é irônica esta vida. No peito uma dor que só os desesperados conhecem, na memória as lembranças e nas mãos as malas, o moço dá sinal de partida, todos embarcam, alguém lhe sorri da janela, como se conhecesse aquele olhar triste e agora parecia que apenas ela tinha, em um esforço inútil ela tenta sorrir de volta, mas é tanta tristeza que não lhe sobram forças para fingir uma simpatia que lhe escapou no momento que fez as malas. Olhando para o nada, como se tivesse assim a chance de retornar por aquele chão de terra, ela observa a paisagem que vai se tornando distante, e tudo foi ficando embaçado aos seus olhos, apesar de ainda estarem tão nítidos em sua memória, tudo era tão contraditório naquele instante, como poderia partir se queria ficar? Mas ela mesmo respondia, silenciosa, fechando os olhos e pressionando aos mãos uma contra a outra, "não posso ficar, não posso ficar". Todos se perguntavam que motivos ela tinha para sair assim fugida no meio da tarde, despedindo-se apenas de duas pessoas, mas ninguém precisava saber, não importam os motivos, nunca importou a ninguém daquele lugar, há quem diga que foi por medo, ela estava desesperada de medo, quem olhava nos seus olhos poderia reconhecer a cor castanha do medo.
O motorista anuncia a primeira parada, ela desce correndo "irei voltar", mas novamente é tomada pela sua consciência, ela volta a sua poltrona, olha pela janela novamente, como se a estrada a chamasse de volta, mas ela sabe que tem coisas que precisam ser feitas por mais que não se queira, ela reflete por uns poucos segundos, vira-se e senta-se na poltrona, a viagem continua, hoje é dia de partir, amanhã quem sabe será o de voltar.